domingo, 28 de abril de 2013



EXERCÍCIOS BÉLICOS WALDIVINAIS

(preparação para a guerra santa)


WALDIES IRAE


SARAIWALDAS
VENDAWALDOS
WALDILÚVIOS

TERREMOTTAS
MAREMOTTAS
TSUNAMOTTAS

WALDEUS
WALDIABO

SALWALDOR
MALWALDO

(20.01.2012-20.04.2013)



§§§



DIES IRAE


SARAIWALDAS
VENDAWALDOS
WALDILÚVIOS
MAREMOTTAS
TERREMOTTAS
WALDEUS
WALDIABO
SALWALDOR
MALWALDO

(20.01.2012)

POESIA: MANDRACA, ORÁCULO, EBÓ, MAGIA


Além de curas presenciais ou à distância, feitas com simples afirmações positivas, enfáticas, imperativas, já sei que posso fazer chuva ou parar de chover, embora ainda não tenha me dedicado a investigar e aperfeiçoar o dom. Geralmente, sinto-me compelido a atuar apenas quando a chuva incomoda muito e causa estragos. 

Algumas vezes, treinei com o vento, mas sem muito sucesso aparente. Houve dias em que obtive ótimos resultados; e alguns em que não fui obedecido pelas entidades do ar, que estão entre as mais rebeldes. Preciso exercitar mais. Sou um mago relapso; confio muito na providência do meu anjo.

Contudo, desde o início de 2009, vez por outra, recito alguns versos, que garatujei mas não me preocupei em burilar, aperfeiçoar, para baixar o calor e amainar o clima na Terra, invocando brisas, ventos refrescantes.

Agora, leio a notícia abaixo. Não posso garantir, mas não é impossível que minhas providências mágicas tenham surtido o efeito desejado.

http://noticias.bol.uol.com.br/ultimas-noticias/ciencia/2013/04/16/desaceleracao-do-aquecimento-global-intriga-cientistas.htm

Aqui, versos de poemas ainda não definidos, works in progress, feitos com a intenção de aplacar a fúria da natureza e criar um novo tempo, uma nova realidade:

Haja frescura em todo o planeta!
Haja frescor na terra inteira, ordeno!
Refrigerem a terra, ventos brandos,
brisas leves, aragens refrescantes!

(13.12.2010)

Encaro o Sol e ordeno:
meu bem, abaixe a crista!

(26.01.2009)

Que o meu amável frescor
arrefeça o calor
e a minha gaia frescura
esfrie a alta quentura
e baixe a temperatura
e aplaque a grande fúria
da maltratada Natura!

(26.01.2009-17.04.2013)

sexta-feira, 19 de abril de 2013


POÉTICA


(Texto extraído de "Arte Culinária: do Abaporu à Bicha Papona", que sairá em breve)

Poetas não são apenas fazedores de versos, mas sobretudo criadores de novas realidades abstratas e concretas, pessoais e sociais. A poesia é a mãe de todas as artes, ciências e religiões, filhas ingratas. Pode ajudar a resolver os enguiços, impasses, aporias, quiprocós criados pelas filhotas irresponsáveis.

Logopeia: renovação, inovação de ideias, temas, abordagens, perspectivas; reflexão contra a esclerose, a poesia oca e boboca, o torpor, a modorra; a anorexia temática, a anemia espiritual, a mornidão apocalíptica. Leitores não se interessam por ideias e obras que pouco ou nada oferecem (Pound).

Destoar do panorama melancólico: gorjeios maçantes, subjetividade rasa; bebuns de estesias nos botecos e igrejinhas; noviços do sublime, devotos da musa automática & psicodélica, sereias desafinadas, parcas porcas, aporia, entropia.

Diálogo intertextual, intercultural. A poesia é um diálogo entre autores, e destes com os leitores. Paródia: debochar, avacalhar. Palinódia: desdizer, redizer; crítica e reformulação de ideias.

Poeta: vate, profeta, mago. Poesia: magia, vaticínio, profecia. Poesia: arte, ciência, religião. Poesia: revelação, criação.

Boi na frente, carro atrás: verdade e beleza; ética e estética; conteúdo e forma.

Poiesis: autopoiesis, metapoiesis, mitopoiesis.

Valorizar as formas simples, tradições populares, lendas, mitos.

Reabertura da agenda modernista (expressão de Raul Antelo): antropofagia, linguagem coloquial, temas nacionais, humor. A prova dos nove é a alegria, como Oswald dizia e repetem os Waldos. Já disse por aí, quando era Valdo: espero que o mundo acabe em gargalhadas – dos que restarem.

A crítica é mais eficaz com humor, ironia. Ridendo castigat mores.

Malandragem waldivina, utilizo várias máscaras e o burlesco em minha catequese, para seduzir e converter racionalistas selvagens. Iumna Maria Simon, no ensaio Revelação e Desencanto, já havia notado em minha poesia, particularmente no livro Bundo e outros poemas, essa relação entre sagrado e comédia, a ambivalência do profeta que se faz arlequim.

Waldo Motta

quarta-feira, 3 de abril de 2013



POEMAS INÉDITOS 
- antigos e recentes -


POESIA I

AIS
PIOS
E ÓPIOS
-- SÓ ISSO?

§§§

POESIA II 


AIS
PIOS
ÓPIOS
-- E SÓIS!

§§§

POEMAGIA

NÃO DESCREVER ESTA REALIDADE
MAS ESCREVER OUTRA REALIDADE

§§§

AUTOPOIESIS

A palavra me escreve

§§§

ARTIFÍCIOS

Artista é que nem pavão
e os bichos da natureza:
artimanhas da beleza
são truques de sedução.

§§§

EFEITO SECRETO 


Um poema age no mundo,
mesmo que ninguém o leia.
Atua em segredo e fundo, 
tudo enreda em sua teia.

§§§

POIESIS   

MITOPOIESIS
METAPOIESIS
AUTOPOIESIS

 (2012) 

§§§

SENHA

hora propícia

porta do fundo

chave na mão

(02.01.2012)

§§§

AOS PÉS DA COBRA GRANDE

Iconha ou Jacaraípe?, hesita Drida,

mais para dríade desencantada, este sábado,

neste bosque de solidão, Jardim da Penha.

Iconha ou Jacaraípe? Que importa aonde ir?

Sortearemos a sorte da própria sorte!

Recorramos ao oráculo, mas aperta um, primeiro,

e tratemos de secar este litro de conhaque.

A sorte há de sortear-se por meio de nossas mãos,

nossos pés volitivos dançarão roteiros ébrios,

regidos com rigor pela música das esferas.

Que importa aonde ir este final de semana?

Que importa aonde ir em qualquer tempolugar?

Que importa aonde ir? Vamos beber e fumar!

Ouroboros sempre há de morder a própria cauda,

ciclo do tempo, círculo fechado, eterno circo.

Assim ou assado seja, Ará Mbói! Arô Moboi!


(10.09.1986)

§§§

PEGAÇÃO SAGRADA

Põe tua mão aqui debaixo
de minha coxa, onde Abrahão
pediu que um servo o tocasse,
em nome do Deus dos deuses,
Senhor dos Céus e da Terra,
onde o anjo do Senhor tocou
o relutante Jacob, que assim
se transformou em Israel,
que lembrou da sagrada aliança
em seu leito de morte, onde pediu
ao mais amado filho que o tocasse
no mesmo lugar sagrado e consagrado.

(30.07.2009)

§§§

 SENHA

porta do fundo
hora propícia
chave na mão

(02.01.2012)

§§§

REPENSANDO MALLARMÉ

Não li todos os livros, mas já sei

que a carne é alegre, e o espírito

tem sido um tolo e desastrado rei

que nem sequer conhece o seu palácio.

Fugir, fugir, para onde? Nem as aves 

são livres neste mundo; eu não irei

para lugar nenhum, deixem-me aqui. 

Não há por que fugir, e nem de quê. 

O jardim que anelo está em mim,

nesta ilha central, e o mar é o amor. 

.......................................................


(2012)

§§§

POESIA: REVELAÇÃO 

Tenho falado muito de poesia como construção, criação de realidades, pessoais e sociais, históricas, e não apenas poemas, objetos estéticos. Insisto numa perspectiva mágica, uma ação criativa e transformadora da vida e seus impasses. Poesia: arquitetura, engenharia; criação e transformação da história. 

Enfim, a poesia como um processo. E também produto. Mas sempre um fazer, uma ação ou realização humana, via palavra (e outros códigos, por que não?).

Entretanto, quase nada falo do outro lado: a revelação.

Sem negar o quanto possa ter de místico, é preciso entender que a revelação não precisa necessariamente ser de coisas, fatos ou verdades de outro mundo, fora ou longe do nosso. Conhecemos tão pouco da realidade dada, herdada, ao alcance de nossos sentidos, tão limitados e confusos.

Existe muita mistificação em torno do fenômeno da poesia, como se a inspiração fosse algum recado de outro mundo. Pode até ser, em casos raríssimos, mas ninguém que eu saiba está disposto a adotar a poesia como religião, exceto talvez este que vos fala. Inspiração, para mim, não precisa ser mais que percepção, acesso - intuitivo, acidental ou metódico - a informações guardadas na memória da humanidade.