POIESIS: A MAGIA DE WALDO MOTTA
Estou sempre martelando que arte é magia. Que poiesis é construir novas realidades sociais, e não apenas esses objetos estéticos que chamamos poemas. Mas não basta pregar; por isso, dou exemplo.
O poema ACEILOPTU-EUCALIPTO é um protesto contra a monocultura de eucalipto. Nele se harmonizam ética e estética, engajamento e arte, política e espiritualidade.
É um poema anagramático, escrito com apenas 9 letras, as letras da palavra EUCALIPTO.
Eu acompanhava a luta de índios e quilombolas pela recuperação de suas terras, no ES, e me afligia por não saber como ajudar nessa luta.
Numa madrugada insone, repensando a situação, devo ter sido visitado pelo espírito Eucalyptus (grego: boa cobertura, bem coberto), que se descobriu para mim, e me revelou os seus segredos.
Reza a lenda que o anagrama é uma revelação, feita por algum espírito ou anjo ou divindade a um determinado poeta.
A técnica anagramática faz parte dos procedimentos cabalísticos empregados no desvelamento de significados secretos nos livros sagrados.
É um recurso mágico.
Poucos dias após a conclusão do poema, final de 2006, foi alcançada uma grande vitória na luta dos índios, que tiveram suas terras devolvidas.