sábado, 31 de dezembro de 2011

2012 - Augúrios

Em vez de apenas desejar um Feliz 2012, aqui venho convidar a todos para construirmos um Feliz 2012.

POIESIS é criar novas realidades. O poeta é um fazedor, criador, mago, deus. Ou devia ser. 
Aqui, estamos diante de uma situação em que se defrontam o destino, a fatalidade, o determinismo e a criatividade, a invenção, a solução, a esperança, a arte, a sabedoria.

Abaixo, as possibilidades de leitura simbólica do próximo ano, considerado por muitos como o ano do fim do mundo. Não desejo e nem vejo isso, mas sinto e tenho certeza que será um ano de mudanças, transformações fortes, dramáticas & trágicas para muitos, e de colheitas felizes para alguns.

Um ano fértil na cultura, nas artes e ciências. É muita coisa a dizer.

Nascidos em dia 2, 11, 20 e 29, de qualquer mês, ou fevereiro e novembro; 5, 14 e 23, de qualquer mês, ou maio, e nativos de Câncer, Gêmeos, Virgem, e alguns signos duplos, dúplices serão afetados com mais força.


2012


ANO DA LUA: agitação dos povos, nações; acessos de loucura; águas em fúria
NÚMERO DE MARTE: terror, violência, guerra; rigor, severidade, justiça implacável

2012 > 20+12 = 32 = coração, âmago da Terra
5 – transformações, mudanças gerais; agitação

30 – ferir, derrubar
2 – casa, palácio, templo
5 – violência, terror, guerra

20 – governante, líder, cabeça
12 – ferir, golpear, atingir
5 – violência, terror, guerra

20 – governante, líder, cabeça
12 – atingido, golpeado, ferido; preso, detido, retido, limitado; enforcado, executado
5 – terror, violência

20 – retorno, ressurgimento
12 – reviravolta, revolta

Lua – imaginação, inspiração, criatividade
5 – cultura, arte, comunicação, comércio

Lua – mulheres
5 – mulheres
2012 – ascensão e valorização das mulheres

Lua e 5 – inconstância, incerteza, indefinição, enrolação

5 – violência, terror, guerra
5 – o Papa, o Hierofante, o Orientador, o Guia Espiritual

2012 – Lua
2012 >2+0+1+2 = 5 – Marte, Mercúrio

Lua e Marte – roubo, corrupção, mentira, enganação; violência noturna
Lua e Mercúrio – ladrões, roubo, noite

Lua – loucos, dementes, loucura
Marte – terror, violência, guerra

Lua – água
Marte – terror, violência, destruição
5 – vento, água; agitação, violência, guerra; violência das águas, nas águas

Lua, Marte, Mercúrio – criatividade, inventividade; ciência, na arte, comércio, negócios
Lua, Marte e Mercúrio – conflito entre nações, discussões, enrolação, embromação

domingo, 25 de dezembro de 2011


NATAL


I - NATAL


Estou aqui pensando que todos somos árvores que andam, falam.
Aquela árvore do paraíso é o corpo humano.
Lembrei do título de um livro infantil “A árvore que veio de longe”, de minha amiga eslovaca Jana Bodnarová.

Reparem bem no atlas do nosso corpo, o sistema nervoso, as ramificações, o esqueleto...
Árvores humanas.
As multidões são florestas.
Somos o bosque encantado, o jardim das delícias, transformado em selva selvagem em que habitam feras medonhas.

Esta metáfora é antiga, tão velha quanto a humanidade, prefigurada no primeiro casal, posto num jardim.
As luzes do Natal são as luzes da alma, na plenitude da estação espiritual, manifestação do fogo da vida, que crepita no santuário do corpo. 


II - NATAL


Uma criança divina
em nossa grutinha nasce
e ilumina por dentro
esta árvore de cálcio.

&&&

Feliz Natal a todos: amigos (as), admiradores (as), leitores(as) em geral. E um Feliz Natal especialmente à minha mãe Tarcília Rangel, que se tornou verdadeiramente uma criança divina, nascendo em outra vida, no mundo dos espíritos, no reino de Deus.

sábado, 29 de outubro de 2011


FÍSICA DAS PARTÍCULAS VERBAIS
POESIA QUÂNTICA
POESIA INTEXTINAL
POESIA ANALGRAMÁTICA


DESCOBRIMENTO






Alcancei, nesta data e hora (27.10.2011, 19:16 hrs), a melhor forma para este micropoema, acima, que venho tentando escrever há tempos. A solução: a partícula N, no 1º verso, desloca-se para outra posição no 2º; e ocorre um “decaimento” da partícula Z, no 1º verso, que se transmuta, no 2º verso, na partícula S, que é, digamos, o seu isótopo, ou alofone.


É possível brincar e falar sério! 


Quando premissas e argumentos são falsos, o raciocínio e as conclusões falham. E todas as buscas são inúteis.

Penso que não existe um “surgimento” da matéria. Inexiste uma partícula doadora de materialidade. Porque tudo é matéria; o nada e o vácuo são delírios e fantasias; o espírito também é matéria (pois matéria é igual a energia, isto é, espírito), e a ideia de um mundo espiritual, um mundo fora da matéria, é uma aberração conceitual. A materialidade é um apanágio do espírito; e a espiritualidade, um apanágio da matéria.


§



CADÊ O BÓSON DE HIGGS? ESTÁ NO BOZÓ DE HIGGS! 



Os conceitos de massa fecal e massa social, que não são tão diferentes assim, podem ajudar a explicar a origem da massa das partículas subatômicas. Tanto a massa fecal quanto a massa social procedem de buracos. O bóson de Higgs é o bozó de Higgs. 



O cu desvenda o mistério da assim chamada partícula de Deus, um conceito pretensioso e ridículo, visto que o universo é um ser vivo, que só pode ser adequadamente considerado o próprio Deus, e portanto, em sendo assim, todas as partículas do universo são partículas de Deus. 


Enfim, o bóson de Higgs pode muito bem ser um cu, de onde vem a massa de tudo que existe. Um dito popular dos nagô diz que a Terra é o excremento de Olorum; por conseguinte, todos nós somos titica, gloriosa obra divina. E não diz a Bíblia que viemos do barro? Pois é, merda simbólica, metafórica! Filhos do pó, burungai, pesquisai e venerai o popó e todos os mistérios serão esclarecidos!

terça-feira, 25 de outubro de 2011


APOCALIPSE ROSA-CHOQUE



ASSIM DISSE A MONSTRA 

Eu sou a monstra sagrada
eu sou a bicha papona
eu sou a jaguatirica
dos vales
eu sou a suçuarana
dos montes.
Eu sou o maracajá.

Sou demônio, anjo e deus
guardião de mil segredos
e do sonhado GRRRAAAALLLL.

Eu sou o terror das selvas,
eu sou o horror das trevas,
todos me amam e temem.

Por amor a Yanderu,
sirvo a Jurupari,
finjo-me de Anhangá,
Caipora e Saci.
Sou um anjo travesti.

Curinga, proteu
dez mil faces tenho.
Em todo e qualquer
lugar estou eu.

Eu sou o querubim do tabernáculo
e o anjo da espada flamejante
e o tigre de Blake e de Borges
e a pantera de Dante, e o leopardo
de Eliot e Daniel
e o dragão do Jardim das Hespérides
e a besta do Apocalipse
e a serpente do paraíso.

Sou o próprio Chupacabra.

Pantera rosa-shocking
jaguar azul-bebê
tigresa rosicler
sou cheia de gatimonhas
mas ronrono de ternura
e me enrosco todinha
em torno do meu dono:
aquele que a todos ama
e de todos é o amo.

Não me venha com bravatas e esconjuros
e nem me torne presa, caça ou vítima
de sua estupidez civilizada.
Sou uma besta sagrada e protegida
um animal santo e exijo
todo o respeito devido
à minha divina estirpe.



ASSIM FALA O SINHOZINHO 

Mas que bela santimônia
desta santinha bisonha!
Ô bichinha sem vergonha:
deixemos de cerimônia!

Arre, basta, chega
de espírito-santices
e espírito-sandices!

Espírito Sonso
Espírito Tonto
Espírito Troncho
Espírito Ancho

Espírito Santinho
Espírito Santão
Espírito Santilão
Espírito Santarrão
Espírito Sacripanta

Pelo amor daquela santa
em riba de nossa penha
que o prazer e a alegria
a todos os justos venham.

Acorda, Espírito Sonso,
desperta, Espírito Tonto!

Em nome do homem
que conhece as manhas
anjas e demônias
de todos os numes
e todos os nomes
e todos os números

Vade retro, canho
zabu drabo tunes
debo belial

cramulhão manfarro
azucrim tinhoso
temba sapucaio
coxotó dialho
tranjão maltanaz
XÁS-TRÁS, sus!

Já chega de tantas
lengas e mumunhas!

Arre, basta, Xu
jeca, bestalhão,
bufão, brucutu
bocó, presepeiro

Sem mais chus nem bus,
cala esta matraca,
cessa teus vudus.

Vamos lá, compadre,
aos quartos do padre,
aos quintos da madre!

Vade retro, sus,
desperta, acorda,
e retorna à luz
do Espírito Santo.

Eu sou o teu bem amado
teu príncipe encantado
teu esposo assinalado
teu bofe predestinado

És meu semelhante
És o meu comparsa
Acabe-se a farsa!

Bichaninha prequeté,
rainha dos mil berloques.
Também sou da sua grei,
e não dispenso um bom rock!

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Estes dois poemas, do meu livro inédito Terra Sem Mal, constituem um diálogo teatral, entre dois personagens alegóricos. Na primeira fala, apresenta-se a monstra guardiã do lugar sagrado, morada de Yanderuvuçu (Nosso Grande Pai), o Deus maior da mitologia guarani. Na segunda fala, o personagem é o mocinho, herói, figura inspirada em aventureiros míticos e reais, buscadores de velocinos, elixires, graais, paraísos etc.

Como se pode ver aqui, reconto e atualizo mitos bíblicos e indígenas, crio alegorias, tranço liames entre culturas diversas, ma non troppo. Também misturo história e ficção. Amalgamo vasta gama de referências, com a graça do meu estilo transformista, este transgênero literário, híbrido de poesia, teatro, romanceiro, tratado filosófico & religioso, tese científica e o diabo a quatro, ou melhor, de quatro. 

Este confronto de antípodas, um tanto neobarroco, lembra personagens de Gil Vicente e Anchieta. No diálogo que se estabelece também ousei transformar o previsível conflito derradeiro entre o Bem e o Mal em tesão recíproco e agarração erótica, isto é, um desfecho interessante para o embate entre o Cristo e o Anticristo, tragédia anunciada.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

NOMENUME


      


Um belo trabalho de composição, a partir do meu nome artístico, Waldo Motta, que se propaga, qual tetragrama poético, em quatro direções. Simetria, harmonia, beleza simples e complexa nesta mandala. Este poema visual, de Ériton Berçaco, foi produzido a partir dos estímulos e propostas de uma das minhas várias oficinas Poiesis. 

sábado, 17 de setembro de 2011

Waldo Motta in der Villa Waldberta



NUMINOSNAMEN 
NOMES NUMINOSOS 

Ein Traum aber auch Wirklichkeit.
Um sonho, mas também realidade.
Glaub ich im Wald zu stehen. Siehe:
Acho que estou no mato. Vejam:
Feldafing, Höhenbergstrabe und Villa
Feldafing, Höhenbergstrabe e Villa
Waldberta, hier bin ich, und Wald heib ich.
Waldberta, aqui estou, e eu sou Waldo.
Jeden Tag, ich mir sage: ohne Zweifel
Digo a mim, cada dia: sem dúvida,
Na endlich, erreiche ich hier mein Ziel.
Finalmente, alcancei aqui meu fim.
Zur Erlösung führt diese gute Strabe.
À salvação leva esta boa estrada.
Das ist ein magischer Ort, wo fang ich
Este é um lugar mágico, onde cacei
Und richte das Wild des Waldes ab.
E amestrei as feras da floresta.
Ein Hinterwäldler (Wald), der immer sucht
Um caipira (Waldo), que sempre caça
Wie ein Wild die Weisheit und das Licht,
Como um louco a ciência e a luz,
Wurde hier in der Villa Waldberta,
Foi aqui, na Villa Waldberta,
Feldafing, gefangen, eigentlich.
Feldafing, a caça verdadeira.


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Este é um dos poemas iniciais do meu livro Terra Sem Mal, que versa sobre a busca e o achamento do paraíso terrestre, segundo a minha leitura dos mitos dos índios brasileiros, mormente os guarani.

Considero um sinal verde dos deuses, reconhecimento e benção do espírito da floresta, que um poeta brasileiro chamado Waldo (em alemão, Wald significa: floresta; monte), ganhe, no emblemático ano 2000, o seu primeiro prêmio literário de uma instituição alemã, e fique hospedado exatamente na Villa Waldberta, de frente para os Alpes.

Seguindo por vias analógicas, cheguei ao paraíso, o jardim de prazeres, o bosque sagrado, a floresta encantada, em mim mesmo: Wald.

Graziela Romanha e Verena Nolte me ajudaram na correção do poema "Numinosnamen", que escrevi com o auxílio de dicionários. 

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Aqui está o poeta Waldo Motta, lendo poemas de sua autoria, na Villa Waldberta, em 2001, na exposição do artista plástico eslovaco Juraj Bartusz, autor desta foto.






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As fotos abaixo, da Villa Waldberta, onde fiquei durante três meses, final de 2011
e início de 2002, foram feitas por Christina Garcia, participante da oficina
Poesia e Teatro, que ministrei na FAFI, em Vitória, em 2007-08, que visitou a
Villa Waldberta e fez estas fotos para mim. 
















sexta-feira, 13 de maio de 2011

TRANSDIÇÕES


בראשית – BeREShYTh – RECREAÇÃO
(Transdição poética, em chave escatológica, da cosmogonia narrada
em Gênesis 1: 1–31 e 2: 1–3, a partir do original hebraico)

1
NO IMO DE SI, CONCEBEU O NUME
O CÉU E A TERRA.
2
E A TERRA ERA
INFORME E ERMA; E ERA A TREVA
SOBRE A FACE DO ABISMO; E SOBRE A FACE
DAS ÁGUAS PAIRAVA O ALMONUME.
3
E DISSE O NUME: HAJA LUME. E HOUVE LUME.
4
E AÍ VIU QUÃO O LUME ERA BOM.
E DIVIDIU O DEVA LUME E TREVA.
5
E CHAMOU DIA AO LUME; E À TREVA NOITE.
E ERA A TARDEMANHÃ NO EVO UM.
6
E DISSE O DIVO: HAJA UM FIRMAMENTO
QUE ENTRE AS ÁGUAS SEJA UMA ROTURA.
7
E NISSO FEZ O DIVO O FIRMAMENTO
E PRODUZIU O VÁCUO ENTRE AS ÁGUAS
DE BAIXO E DE CIMA. E ASSIM FOI
8
E AO FIRMAMENTO O UNO CHAMOU CÉU,
E ERA A TARDEMANHÃ NO EVO DOIS.
9
E ELE CLAMOU: AJUNTEM-SE AS ÁGUAS
INFRACELESTIAIS NO LOCAL JUSTO,
E O SECO APAREÇA. E ASSIM FOI.
10
E CHAMOU TERRA AO SECO, E À JUNÇÃO
AQUOSA MARES. E VIU QUE ERA BOM.
11
E DISSE O GRÃO: GERE A TERRA ERVA
VERDE, ERVA SEMENTEIRA E ÁRVORE
FRUTÍFERA QUE GERE TAL QUAL SUA
ESPÉCIE, E SEJA NELA A SUA PRÓPRIA
SEMENTE SOBRE A TERRA. E ASSIM FOI.
12
E A TERRA GEROU ERVA, ERVA GERANDO
SEMENTE CONFORME A SUA ESPÉCIE,
E ÁRVORE FRUTÍFERA, E NELA
SUA SEMENTE TAL QUAL SUA ESPÉCIE.
E O GRÃO VIU QUÃO ISSO ERA BOM.
13
E ERA A TARDEMANHÃ NO EVO TRÊS.
14
E O DEVA PROCLAMOU: HAJA LUZEIROS
NA VASTIDÃO CELESTE, QUE ASSINALEM
O DIA, A NOITE, OS ANOS E AS ERAS.
15
E SEJAM LUMINARES PARA A TERRA
NA EXTENSÃO CELÍACA E ASSIM FOI.
16
E FEZ ELE OS DOIS GRANDES LUMINARES
– PARA REGER O DIA, O MAIOR;
E O MENOR PARA REGER A NOITE –
ASSIM COMO AS ESTRELAS.
17
E OS PÔS
NO OCO CELESTIAL, POR LUZ DA TERRA.
18
E POR GUIAS AO DIA E À NOITE,
E POR FRONTEIRAS ENTRE LUZ E TREVA.
E O DEVA VIU QUÃO ISSO ERA BOM.
19
E ERA A TARDEMANHÃ NO EVO QUATRO.
20
E ORDENOU O DOM: CRIEM AS ÁGUAS
SERES VIVENTES E MOVENTES, E AVES
QUE SOBREVOEM A FACE DA TERRA,
VOANDO PELA AMPLIDÃO DOS ARES.  
21
E CRIOU ELE AS GRANDES E PEQUENAS
CRIATURAS VIVENTES E MOVENTES,
E A MULTIDÃO DE BESTAS QUE AS ÁGUAS
CRIARAM EM ESPÉCIES, E A TODA
AVE ALADA CONFORME A SUA ESPÉCIE.
E O DOM VIU QUÃO ISSO ERA BOM.
22
E OS ABENÇOOU, ASSIM DIZENDO:
GERAI EM CÓPIAS, E ENCHEI AS ÁGUAS;
E AS AVES MULTIPLIQUEM-SE NA TERRA.
23
E ERA A TARDEMANHÃ NO EVO CINCO.
24
E ENTÃO ELE DISSE: GERE A TERRA  
VIVALMAS MOVENTES, RÉPTEIS E FERAS 
TAIS SUAS ESPÉCIES, BESTAS DA TERRA
SEGUNDO CADA ESPÉCIE. E ASSIM FOI.
25
E CRIOU ELE OS ANIMAIS DA TERRA,
CADA QUAL POR ESPÉCIE, E REBANHOS
SEGUNDO CADA ESPÉCIE, E OS RÉPTEIS
E FERAS, BESTAS DA TERRA, EM ESPÉCIES.
E ENTÃO VIU QUÃO ISSO ERA BOM.
26
E AÍ O AMO CONCLAMOU: FAÇAMOS
HUMANOS COMO REPLICANTES NOSSOS,
E SIMULANDO A NOSSA COMPLEIÇÃO.
E REINEM ENTRE OS PEIXES DOS MARES
E ENTRE AS AVES DO CÉU, E ENTRE OS REBANHOS
DA TERRA, E ENTRE TODOS OS SERES
VIVENTES E MOVENTES SOBRE A TERRA.
27
E ASSIM À SUA SOMBRA FEZ HUMANOS,
E OS FEZ CONFORME A SUA APARÊNCIA;
MACHO E FÊMEA FAZENDO-OS, PORTANTO.
28
E OS ABENÇOOU, ASSIM DIZENDO:
FRUTIFICAI EM CÓPIAS, ENCHEI
E DOMINAI A TERRA, E REINAI
ENTRE OS PEIXES MARINHOS, E ENTRE AS AVES
CELESTES, E ENTRE TODOS OS ENTES
VIVENTES E MOVENTES SOBRE A TERRA.
29
E DISSE, FINALMENTE: EIS VOS DOU
TODA ERVA SEMENTEIRA EXISTENTE
SOBRE A FACE DA TERRA, ASSIM COMO
TODA ÁRVORE COM FRUTO E SEMENTE
PARA SERVIR AO VOSSO MANTIMENTO.
30
E A TODA ALIMÁRIA TERRESTRE,
E A TODA AVE CELESTE, E A TODO SER
VIVENTE E MOVENTE SOBRE A TERRA
SERÁ POR ALIMENTO A ERVA VERDE
QUE A TERRA PRODUZIR. E ASSIM FOI.
31
E DEUS CONTEMPLOU TUDO O QUE FIZERA,
E EIS QUE TUDO ERA MUITO BOM.
E ERA A TARDEMANHÃ NO EVO SEIS.
32
E ASSIM OBRANDO DEUS, A TERRA, OS CÉUS
E TODOS OS SEUS ANJOS SÃO CRIADOS.
33
E COMO ENCERRASSE NO EVO SETE
O LABORÃO DE TODA A SUA OBRA,
E REPOUSANDO AÍ DE SEU LABOR,
34
SAGROU E CONSAGROU O SETIAL
COMO O POUSEIRO DA LABORAÇÃO
DE QUANTO CONCEBERA E FIZERA.

&&&

INTRÓITO

Creio que a chave para o entendimento do que é o PRINCÍPIO a que alude o בראשית BeREShYTh (No princípio), pode ser encontrada já na letra inicial dessa expressão com que se nomeia o primeiro livro da Bíblia. Essa letra inicial é ב - B - (BeYTh), preposição com sentido locativo, espacial, que significa, na Cabala, o objeto ou o ponto central de alguma coisa, e também oco, vácuo, vazio; entranha, ventre, âmago, íntimo, imo. No universo do corpo, esse ponto central é o cóccix. Para os chineses, nesse lugar está a vesícula germinal, o céu primeiro. Para os maias, Deus, o sagrado, a pirâmide (K’u) e o cóccix (K’ul) são basicamente a mesma coisa. A palavra בית (BeYTh), além de ser o nome da letra ב, comumente designa a casa, o palácio, o templo. Para mim, essa casa tem morador. Sendo ela um palácio, trata-se de um rei; e sendo um templo, então é Deus que está ali.

A maioria das pessoas entende que “no princípio” refere-se ao tempo, mas eu prefiro achar que se trata do espaço, de um ponto, de um lugar específico por onde as coisas começam, o lugar da origem. O que se coaduna com os significados aparentemente opostos da palavra REShYTh, a saber: princípio, origem, base, fundamento e, também, cume, píncaro, superior. Com efeito, o pensamento religioso judaico algumas vezes ressoa o aforisma de que o inferior contém e reflete o superior, e o interior contém e reflete o exterior; em suma, os opostos se correspondem. E eu observei isto em minhas próprias pesquisas do hebraico e da Bíblia. 

As duas letras iniciais da expressão בראשית BeREShYTh formam a palavra בֺּר (BoR), que significa cisterna, cova, buraco. Combinando-se as três letras iniciais, mas trocando de lugar a 2a e a 3a , forma-se assim a palavra בְּאֵר (BeER), que também significa poço, cisterna. Interessante é que o verbo בֵּאֵר significa explicar, esclarecer, desvendar. Pois bem: em minhas pesquisas, descobri que toda a estrutura do corpo se organiza em torno do bulbo raquidiano, o tubo neural, sendo a coluna vertebral o tronco da árvore da vida. É do cóccix que esta árvore brota. Portanto, no cóccix estaria situado o vazio central dos taoístas, o pleroma dos gnósticos, o vácuo dos cientistas, o nada dos místicos e a coisa dos filósofos. As letras da palavra árvore עֵץ significam: a fonte, o olho, o manancial, o orifício (ע); o oeste, o traseiro, o ânus, o justo, a justiça (צ ou ץ). As mesmas letras estão na raiz das palavras עָצֶה (cóccix, cauda, anca), עֶצֶם (essência, substância; osso, ossada, esqueleto; corpo), עִצוּם (essência, força, energia, vigor), עָצוּם (poderoso, forte; ótimo, belo, maravilhoso). 

Com o título RECREAÇÃO, ofereço uma chave de leitura bíblica heterodoxa, de caráter lúdico, messiânico, considerando que a palavra Messias, em hebraico, contém as letras das palavras alegria, prazer, festa. Trata-se de minha visão anal e escatológica do processo cosmogônico e histórico.  Entendo que a criação do mundo, em certos aspectos, pode ser considerada uma brincadeira, um jogo. Vemos que criar (latim: creare) e recrear (latim: recreare) não são coisas tão diferentes assim.

Uma explicação necessária: embora eu traduza, neste intróito e nas notas seguintes, verbos hebraicos no infinitivo, na realidade eles estão na terceira pessoa do pretérito passado, conforme explica Rifka Berezin.

NOTAS AOS VERSÍCULOS

1. No primeiro versículo de minha tradução, exatamente nesta palavra ou expressão inicial, tão emblemática, בראשית (BeREShYTh), que a maioria dos tradutores traduz como “No princípio”, e eu traduzi como “No imo de si”, está a chave para o entendimento geral dos mistérios da Bíblia. Na Cabala, a letra ב significa: centro, âmago, íntimo, imo. Situada no início do primeiro livro bíblico, o Gênesis, ou BeREShYTh, e da própria TORáH, a letra  ב representa a origem, o oráculo que profere o texto, o ponto que sustenta a estrutura textual e, por analogia, a arquitetura do corpo e do Universo.

3. LUME ou LUZ = cavidade, oco, vazio, no jargão da medicina e da arquitetura. Segundo a embriologia, a cavidade primordial no corpo humano é o tubo neural, o túnel raquidiano, isto é, o canal da espinha. Do qual, o buraco que nos atravessa do ânus à boca é um desdobramento. Por isso, creio, diz o profeta Isaías 51:1, aquele que busca a justiça deve olhar para o rochedo onde fomos talhados, e para a caverna do poço onde somos perfurados.

6. RáQYHa רָקִעַ (firmamento, céu) vem de RéQaH רֶקַע (base, suporte, alicerce), e associa-se a QáRaH  קָרַע (rasgar, fender, cindir) e a קֶרַע QéRaH (ruptura, rotura, cisão).

9. MáQOM ÉHáD מָקוֹם אֶחָד (lugar justo). מָקוֹם = lugar, local, meio, assento; אֶחָד = primeiro, primitivo, inicial, único; um, unidade. Associa-se a אׅחֵד IHeD = unir, reunir, unificar, ligar ou religar. Entendo que MáQOM ÉHáD pode ser traduzido como local ou lugar singular, único, adequado, próprio, exclusivo, certo, preciso, conveniente, correto, exato, justo. Para mim, é o lugar da reunião, da congregação, da religação –  um centro religioso para todos os povos ou nações, isto é, águas, no simbolismo apocalíptico. Escolhi o adjetivo justo pelas implicações que esse lugar tem com a prática da justiça, no sentido esotérico, erótico, a qual constitui um ato de religação com o sagrado, um ato religioso, de união, pela via anal, entre o humano e o divino.

15. CELÍACO = referente ao oco do ventre, abdome etc. Evoca célula, cela, céu, qualquer cavidade ou espaço vazio no organismo animal ou vegetal.

32.  “E ASSIM OBRANDO DEUS, A TERRA, OS CÉUS/ E TODOS OS SEUS ANJOS SÃO CRIADOS.” Obrar é fazer, criar, produzir, e também defecar. No pensamento religioso yorubá-nagô, a Terra é excremento de Deus, e assim todos os seres não passariam de titica. SÃO = aquilo que é, já foi e será o mesmo, na mística bíblica; de modo que o tempo é um eterno presente. Entendo que, se “A TERRA, OS CÉUS/ E TODOS OS SEUS ANJOS SÃO CRIADOS” por Deus, também são criados ou servos de Deus.

34. SETIAL = lugar para descanso das nádegas ou dos pés; banco, assento; escano, peanha, escabelo, estrado, pedestal etc. Associei o número sete, do sétimo dia, à idéia de setial, e dei no campo semântico que evoca sede (assento), sedal (anal), sedém ou sedenho (traseiro, nádegas; cauda, rabo). Assim, POUSEIRO (nádegas) também é um termo metonimicamente coerente. Ademais, YOM (dia) associa-se à YáM (oceano, mar; oeste, poente). Em concepção simbólica, o oeste situa-se às costas, atrás de quem olha para o leste. Em tupi-guarani, p. ex., a palavra yandekupepy, i. é, oeste, poente, significa literalmente: em nossas costas, em nosso traseiro. A mitologia e a religião dos índios situam a morada de Tupã no poente, na montanha sagrada. 

REFERÊNCIAS

A Cabala e seu simbolismo. Gershon Scholem. 2. ed., 2. reimpressão. Tradução: Hans Borger e J. Guinsburg. São Paulo : Perspectiva, 2002. Coleção Debates.

As lendas da criação e destruição do mundo como fundamentos da religião dos Apapocúva-Guarani. Curt Nimuendaju Unkel. Tradução: Charlotte Emmerich & Eduardo B. Viveiros de Castro. São Paulo : HUCITEC / EDUSP, 1987.

Dicionário Hebraico-Português. Jaffa Rifka Berezin. São Paulo : EDUSP, 1995.

Dicionário Hebraico-Português & Aramaico-Português. Nelson Kirst et al. São Leopoldo / Petrópolis : Sinodal / Vozes, 1988.

Embriologia médica. Jan Lagman. 3. ed. Tradução: Orlando J. Aidar. São Paulo : Atheneu, 1977.

O segredo da flor de ouro : um livro de vida chinês. Carl Gustav Jung e Richard Wilhelm. Tradução: Dora Ferreira da Silva e Maria Luíza Appy. Petrópolis : Vozes, 1983.

Os nagô e a morte. Juana Elbein dos Santos. Petrópolis : Vozes, 1976.

Segredos da religião-ciência maia. Hunbatz Men. Tradução: Sílvia Branco Sarzana. São Paulo : Ground, s.d.
 
Vocabulário Tupi-Guarani-Português. Silveira Bueno. 3. ed. revista e aumentada. São Paulo : Brasilivros, 1984.

I Ching – O livro das mutações. Richard Wilhelm (org.). 9. ed. Tradução: Alayde Mutzenbecher e Gustavo Alberto Correa Pinto. São Paulo : Pensamento, 1993.

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A transdição acima foi publicada na Revista da USP, Literatura e Sociedade, n. 13, (número dedicado ao realismo - em Baudelaire, Machado de Assis, Brecht etc.), juntamente com o poema "Jurupari", do meu livro inédito Terra Sem Mal. Ambos os textos poéticos são acompanhados de meus próprios comentários. Confiram: 
http://www.dtllc.fflch.usp.br/sites/dtllc.fflch.usp.br/files/Literatura%20e%20Sociedade%2013%20vers%C3%A3o%20final.pdf
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Mais sobre o BeREShYTh:


Em papo com o poeta, editor e tradutor Ronald Polito, eu disse: 

Peço-lhe a gentileza de ler a tradução em versos que fiz do BeREShYTh e os comentários (...)  Foi encomendada, como um desafio, por Iumna Simon, Roberto Schwarz e Paulo Arantes, na USP, em 1997 ou 8, talvez para testar o meu conhecimento de hebraico (que é desprezível). Para o feito, contei somente com minha intuição, algumas traduções diferentes da Bíblia, dois dicionários, e noções de cabala, numerologia e simbolismo em geral. Além de poucos dados colhidos numa bibliografia dispersa, de que relaciono alguns títulos.
  
Imagine que a revista de Cultura Vozes (que pertence a Igreja Católica) quis publicar a minha tradução escatológica do Gênesis. Mas eu, com certo temor, botei bronca, cobrei um preço acima do mercado, e inviabilizei o negócio.

(...)

Também gostaria que conhecesse a minha tradução, a partir do alemão, do livro infantil Was ich am See zu sehen bekam (Visagens do lago), da escritora eslovaca Jana Bodnárová, amiga que conheci na Villa Waldberta, quando lá estive, às expensas do Landeshauptstadt München Kulturreferat, que me concedeu bolsa e estadia de três meses na Alemanha. Ela (...) já traduziu e publicou, na revista Fragment, na Eslováquia, alguns poemas de meu livro inédito Terra sem mal, e também de Bundo e outros poemas (Campinas, Unicamp, 1996), os quais ela também recitou numa certa rádio de lá, em Bratislava. Encantada com minha poesia e minha pessoa, me transformou em personagem de Visagens do lago. Ela é uma escritora relativamente bem conhecida na Europa, creio, pois está sempre publicando seus poemas, encenando suas peças teatrais, fazendo leituras em vários países. Gostaria muito de publicar algum livro dela.

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SALMOS
Transdições


Traduzi os Salmos 1, 70, 82 e 110, por razões muito pessoais, mas que podem ter um certo interesse para os leitores. Para mim, os Salmos 1 e 110 possuem conotações homoeróticas. Já os Salmos 70 e 82 me interessam pelo tema da injustiça, no sentido histórico, secular, e a defesa dos pobres e humilhados. 


Em minha tradução do Salmo 1, as expressões "rodinhas iníquas", verso 2, "rotas errantes", verso 3, e "rodas gozadeiras", verso 4, são deliberadamente ambíguas, metafóricas, e aludem tanto às reuniões, aos grupos ou turmas quanto ao lugar sagrado dos pecadores, que o varão justo, e a vara da justiça, não podem tocar nem adentrar. 

No Salmo 110, vejo instruções de um ritual homoerótico, sagrado. Quando é dito, em minha tradução: "Apõe-te à minha ré", repete-se a situação em que disse o Anjo a Moisés: "Somente pelas costas me verás". Nessa fala, o verbo ver, hebraico ראי RAY, é também substantivo, que significa: vista, aspecto, aparência; fezes, excremento. 

Trata-se da variação de um mesmo tema, a relação com o lugar sagrado, que deve ser louvado, visitado, tocado, massageado, pelos justos, conforme outras passagens bíblicas, como aquela em que Abraão pede a um servo que ponha a mão debaixo de sua coxa, para jurar pelo Deus do céu e da terra, e uma outra em que um certo Anjo passou a noite abraçando, apertando, agarrando ou lutando (verbo אבק) com um relutante e arisco Jacob, de quem só consegue tocar a cavidade da coxa, por onde passa o nervo (ini)ciático. Esse nervo duplo nasce na base da espinha dorsal, na região sacrococcígea, isto é, o lugar sagrado. 
As letras do verbo אבק (abraçar, apertar; agarrar, lutar) podem ser lidas assim:

א  princípio, origem, fundamento; pai 
ב  sabedoria, conhecimento; palácio, templo; ventre, entranha, íntimo 
ק  transmissão, instrução, revelação, iniciação



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JANA BODNÁROVÁ

Escritora eslovaca, que conheci na Villa Waldberta, Alemanha, quando lá estive como ganhador de bolsa e estadia, concedidas pelo Landeshauptstadt München Kulturreferat, traduziu alguns dos meus poemas para o eslovaco, que foram lidos por ela em uma transmissão radiofônica e publicados na revista Fragment. 


A seguir, a apresentação que Jana escreveu para essa revista, traduzida para o inglês por Jonathan Gresty. Algumas imprecisões podem ser debitadas a mim, ao meu péssimo inglês, em nossos papos invernais, que às vezes incluíam o seu marido, o artista plástico eslovaco Juraj Bartusz. Acompanhando a versão inglesa, incluí aqui a apresentação original, em eslovaco, bem como os próprios poemas, em eslovaco, além de cópias escaneadas da capa e de páginas da revista onde constam o meu nome e os meus poemas. 


Logo depois, ofereço algumas transdições que fiz de obras de Jana: duas páginas da versão inglesa, de Jonathan Gresty, do livro A árvore que veio de longe; e mais de 20 páginas do livro Visagens do lago, em que figuro como personagem, seguindo a versão alemã de Renata SakoHoess, mas de olho no original eslovaco.


Saiba um pouco mais sobre a escritora, poeta e dramaturga eslovaca Jana Bodnárová, através deste link: http://www.theatre.sk/slovakdrama/?q=b/bodnarova-jana


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POET OF MYSTICISM AND REBELLION

Waldo Motta (1959-) is a contemporary Brazilian poet living in the town of Vitória in the state of Espírito Santo. He studied Journalism at the local university but never completed his studies.

In 2001 I met this charismatic poet in Munich during a study stay in the Villa Waldberta. Whenever all the stipend students had a meeting he would come with a pile of books and give fiery monologues about his highly hermetic poetry. A physically delicate man, with the dark skin of his black father, he spoke with the animated gestures and rousing voice of a performer rather than of an introverted poet. He spoke of preserving his creative freedom even in the face of poverty, of how he would walk around the streets of the town asking passers-by if they would like to buy his books.

Professor Maria Simon from the University of Sao Paulo has written about Motta’s poetry, commenting on how he “adopts elements from the esoteric, the Bible, classical mythology, Afro-Brazilian mysticism...and moves freely between an enormous range of different fields – from classical genres to synthetic compositions, from scientific to popular forms..“ The poet says about his work: “I study the esoteric and mystical, the Bible, the cabala, myths, folk songs... I have created my own strong, distinctive style with a literary language which is simultaneously dirty and sacred, sarcastic and serious, spiritual and cavalier, obscene and noble, mild and cruel, vulgar and scientific. This is because the essence of God is sometimes found in the most disgusting and horrible places...“

Many of Motta’s poems cannot be translated into Slovak. He often uses anagrams and a cabalistic-numerical language (formulae for mysterious mathematics) in combination with medical terminology. Also his poetry often seems feminine in its corporeality. Motta finds many mystical and symbolic elements in the structure and embryological development of the human body. All of this puts great demands on the translator and explains why we have chosen only to translate examples of his more accessible work, poems taken from the Earth without Evil and ‘Bundo’ collections.

The first group are inspired by the myths of the Guarani – the original inhabitants of Brazil. Motta has got to know the myths of Indians who live in the Caparaó mountains and who trace their origins back to these people. Earth without evil is an expression used by the Guarani and refers to a dreamt-of but real place, a kind of heaven on earth, where people are able to avoid such things as pressure from the outside world, hunger, illness, war, sadness, death etc. To find this earth means to become immortal.

Motta has transformed this extensive, complex mythology into pithy subjective myths, some of which can be especially difficult for our Central European mindset to grasp but which enrich us with their enigmatic spirituality.

The second group is made up of poems more personal in character, sometimes with a kind of southern exaltation. In them we feel the more private feelings of the author and his sense of being in a minority. This is shown through the homoerotic themes of the poems, some of which have transcendental overtones.

Translation: Jonathan Gresty




BÁSNIK MYSTIKY A REBÉLIE

Waldo Motta (1959) je súčasný brazílsky básnik, ktorý žije v meste Vitória v štáte Espírito Santo. Na tamojšej univerzite vyštudoval žurnalistiku, ktorej sa príležitostne venuje ako nezávislý novinár.
V r. 2001 som sa s týmto charizmatickým básnikom zoznámila v Mníchove počas štipendijného pobytu vo Ville Waldberta. Na spoločné stretnutia štipendistov chodieval vždy s kopcom kníh a viedol plamenné monológy o svojej značne hermetickej poézii. Fyzicky krehký muž, s tmavou pleťou po svojom černošskom otcovi, vždy s vášnivými gestami a burcujúcim hlasom pripomínal skôr performera ako uzavretého básnika. Svoju tvorivú slobodu si uchováva za cenu  materiálnej biedy. Rozprával nám, ako chodí so svojimi básnickými zbierkami po uliciach mesta a prosí chodcov, aby si kúpili jeho knihy.
Profesor Iumna Maria Simon z univerzity v Sao Paulo napísal o Mottovej poézii, že si „osvojuje prvky z ezoteriky, Biblie, klasickej mytológie, afro-brazílskeho mysticizmu....“ , a že „narába veľmi slobodne s obrovským množstvom vzťahov od klasických žánrov k syntetickým kompozíciám, od vedeckých  foriem k populárnym formám...“ Sám básnik deklaruje o svojej poézii: „Študujem ezoteriku, mystiku, Bibliu, kabalu, mýty, ľudové piesne... Vytvoril som si silný, zvláštny štýl. Môj literárny jazyk je simultánne špinavý a posvätný, sarkastický a vážny, duchovný a karnevalový, obscénny a vznešený, hladký a krutý, vulgárny a vedecký, lebo i  božská podstata je skrytá v najhnusnejších, najodpudivejších miestach...“
Mnohé z Mottových básní sú takmer nepreložiteľné do slovenčiny. Často používa anagramy a kabalisticko-číselný jazyk - ako vzorce záhadnej matematiky - v kombinácii s medicínskym jazykom. Jeho poézia je nezriedka až feminínne „telová“. V samotnej stavbe i embryologickom vývine ľudského tela však nachádza Motta veľa mystických, resp. symbolických momentov. Toto všetko kladie nesmierne nároky na  prekladateľa. Preto sme pre preklad zvolili niekoľko z ľahšie prístupných Mottových básní. Sú zo zbierky Bundo a zo zbierky Zem bez zla.
Prvá skupina vychádza z inšpirácie mýtmi Guaranov pôvodného obyvateľstva Brazílie. S Indiánmi, ktorí si odvodzujú svoj pôvod od tohto národa sa Motta stretol v pohorí Caparaó. Zem bez zla je výraz, ktorý používali Guarani a znamenal vysnívané ale skutočné miesto, akýsi raj na zemi, kde sa človek vyhne takým veciam ako globálny nátlak, hlad, choroby, vojny, smútok, smrť..., pretože nájsť túto zem znamená stať sa  nesmrteľný.
Motta túto obsiahlu, zložitú mytológiu pretransformoval do skratkovitých subjektívnych mýtov, hermetických najmä pre našu stredoeurópsku civilizáciu, ale obohacujúcich nás svojou enigmatickou duchovnosťou.
Druhú skupinu tvoria básne skôr osobnejšieho charakteru, niekedy „južansky“ exaltované Je do nich preliaty  osobný pocit umelca a jeho prináležitosť k minorite, ktorú odkrýva svojimi homoerotickými témami, často tiež s transcendentnými presahmi.




PROLÓG

My, cudzinci na našej vlastnej planéte
snívame o báječnej zemi,
o legendárnom svete a putujeme
nazdarboh v hľadaní mýtickej, požehnanej krajiny,
ako Hebrejci večne prerážajúci
Červené more.
Vratkým mostom
tápeme na ceste
k Najvyššiemu.

Stroskotané a podvedené duše
blednúce v blúdivej trýzni na tejto pustatine,
hľadajúce na tejto zemi inú zem,
na tomto svete iný svet
a v tomto živote iný život.

V hľadaní tej
nikdy nenájdenej zeme,
koľko Indiánov vyhynulo!
A koľko úbohých stroskotancov
sa stále túla krásnou krajinou
oklamaní krutou vábničkou
tajomstva sfingy,
mámivo zahalenej enigmy
- očarovaní vábivými obrazmi!

Zem bez zla, tak vytúžená,
nádherná zem, ten sen čo sužuje naše duše viac ako nočná mora,
kde ťa nájdeme?



MEDITÁCIA GUARANOV

Najvyšší Yanderuvuçu - si urobil svoje obydlie
na križujúcich sa božských križovatkách
v srdci Zeme;
Tam dal Zemi jej princíp.
Chráni vo svojom srdci prirodzené a pravé slnko
a jeho tajné nebesia
strážia  Modrý jaguár,
Večný netopier
a Veľký jedovatý had
- jeho najobľúbenejšie zvery,
jeho uctievaní démoni.
Tí, keď  príde čas,
vyhladia z krajiny zlo
a nechajú nám tak Zem bez zla.


TRIÁDA SVATCOV

Jaguár
Netopier
Had
Tri posvätné zvery
strážiace
božské obydlie.
Traja žiadostiví anjeli
tri previnuté monštrá
tri veselé strašidielka
hryzúco-sajúco-jediace trio.


YANDERU MBAE KUAÁ

Toto povedal náš Otec
Yanderu Mbae Kuaá,
Ten, ktorý vie všetko
a je všadeprítomný:
Všetci sme prázdne bytosti
kvôli prázdnote dutiny v nás.
Pamätajte Juruparyho
ústa bez hovorenia,
bezhlasé ústa, ktoré prevrávajú
k hluchému človečenstvu
záhady a mystériá.
A takto povedal ten,
bez ktorého nič nejestvuje-
náš Otec Mbae Kuaá,
ktorý všetko sýti a je vševediaci:
Som nebeská prázdnota,
v ktorej existuje každá bytosť
a všetky veci.
Požehnaný je ten, ktorý ma
ctí a slávi.


ANIMA X ANIMUS

Žena je obrátený obraz
ženy v mužovi.
Muž je obrátený obraz
ženy v žene.
Žena je prelud na ceste
muža v hľadaní seba.
Muž je prelud na ceste
ženy  hľadajúcej seba.
Hľadanie ženy
prebýva v každom mužovi.
Túžba po mužovi
Má obydlie v každej žene.


VZDOROVITÁ HLINA

Hlina nepoddajná
a bez pravidiel
je moje mihotavé Ja,
čo stále uniká

z bezcitných drápov
prítomnosti
toho čudáckeho majstra.
Moje bytie rebela

túži  len po teplom,
lenivom láskaní
éterických rúk.
To v tejto nádeji
narastá sila zápasiť
s budúcnosťou.


NEBADANÁ PRÁCA

Nie, veci sa nemenia
prudko, zo dňa na deň.

To preto som zahasil vášeň
ktorá premieňala moje verše

do plameňa hnevu.
Koniec koncov,

lepšie je zmeniť
aspoň časť seba samého,

keď už anonymní termiti
aj tak rozhrýzajú stavce prítomnosti.


BIEDNY KRISTUS

Môj jazyk znehybnieva a slová zlyhávajú
v bezmocnej dutine.
Telo sa chveje pod dotykom dažďa smiechu a hvízdania,
no pokračujem vo svojej krížovej ceste bez zaváhania.
Veď v láske k ľuďom sem tam sa ujde i príjemného prekvapenia.
Čoskoro sa mi zahoja škriabance a vo mne uvzato
bude pretekať láska k celému svetu.


( Z portugalčiny preložil Javier Augusto Alvarez Zapata v literárnej spolupráci s Janou Bodnárovou )























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JANA BODNÁROVÁ
O STROME, KTORÝ BOL NA CESTE
THE TREE WHICH CAME FROM AFAR
A ÁRVORE QUE VEIO DE LONGE

Autora: Jana Bodnárová
Tradução inglesa: Jonathan Gresty
Tradução portuguesa: Waldo Motta

Page 5


I know one funny man who likes sitting up in trees. And when he’s sitting there, he likes saying such strange things as:
“You know what, little girl, I’m a bit like that old Chinese philosopher who when he woke up, didn’t know if he was a man who’d dreamt he was a butterfly or a butterfly who’d dreamt he was a man. I sometimes dream I’m a tree and when I wake up from my dream, I don’t know if I’m a man who thinks like a tree or a tree who thinks like a man.”


Página 5

Eu conheço um homem engraçado, que gosta de sentar no alto de árvores. E quando está sentado lá, ele gosta de dizer coisas estranhas tais como:
“Você sabe, pequenina, que eu sou um pouquinho como aquele velho filósofo chinês que, ao despertar, não sabia se era um homem que sonhara ser uma borboleta ou uma borboleta que sonhara ser um homem. Às vezes, eu sonho que sou uma árvore e, desperto, eu não sei se sou um homem que pensa como uma árvore ou uma árvore que pensa como um homem."


Page 6

At other times, he says:


“Trees travel you know. They’re always resting but at the same time they’re always on the move. And if you don’t believe it then you don’t understand your own journey through life.”


He says such funny things, that old man who likes sitting in the crown of trees. And while he’s sitting there, he plays on his tin-whistle.


“Trees on the move!? Can’t you see that they just stand in the same place all the time and never go anywhere?”


“What? You obviously don’t know that even mountains change. As another clever man said: ‘Some mountains are hidden in jewels, some are hidden in marshes and others are hidden in the sky. And there are also some mountains hidden in other mountains.’ But you’d have to know the mountains well to understand that.”

Página 6


Outras vezes, ele diz:


"Árvores viajam, você sabe. Elas estão sempre descansando, mas ao mesmo tempo estão sempre mudando. E se você não acredita, então você não compreende sua própria jornada na vida."


Ele diz tais coisas engraçadas, aquele velho homem que gosta de sentar na copa das árvores. E enquanto está sentado lá, ele toca em sua pequena flauta.


"Árvores ambulantes!? Você não consegue ver que elas somente permanecem no mesmo lugar e jamais vão a lugar nenhum?"


"O quê? Obviamente, você não sabe que até as montanhas mudam. Como disse um outro homem esperto:  'Algumas montanhas estão ocultas em jóias, algumas estão escondidas nos pântanos e outras no céu. E também existem algumas montanhas ocultas em outras montanhas.' Mas você teria de conhecer bem as montanhas para compreender isso.”

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JANA BODNÁROVÁ
  ČO SOM VIDELA PRI JAZERE
WAS ICH AM SEE ZU SEHEN BEKAM
VISAGENS DO LAGO

(Básničky, ktorým sa nechce rýmovat)
(Kleine Verse, die sich nicht reimen wollen)
(Versinhos que não desejam rimar)


Autora: Jana Bodnárová
Tradução alemã: Renata SakoHoess
Tradução portuguesa: Waldo Motta



PÁGINA 5

Toto je pes Duno. Mal zlý sen, že sa stratil
v tmavej noci sám sebe. Preto vrčí.
Nič a nikto sa mu nepáči. Ani hudba hlboko v jazere.

Das ist der Hund Toni. Ein böser Traum bewirkte, dass er sich selbst verlor. Nur deshalb knurrt er nun.
Niemand kann es ihm recht machen. Nicht einmal die Musik tief unten im See.

Este é o totó Tonho. Um mau sonho anunciou
que ele havia se perdido.
Só por isso ele está resmungando.
Ninguém pode ajudá-lo. Nem mesmo a música
das profundezas do lago.

  
PÁGINA 6

Na konci jazera, kde sa voda stretá s oblohou,
pláva v noci maškrtná kačka Dačka.
Odhrýza si z hviezdičky ako z l’adového lízatka.

Am Ende des Sees, da wo Wasser und Himmel sich treffen, plantscht nachts das verschleckte Entchen Ännchen.
Es knabbert dort an einem Stern, als wär‘s ein Eis am Stiel.

No finalzinho do lago, onde água e céu se encontram,
Pataco, o patinho patau, patinha, à noitinha.
Ali, ele bicota uma estrela como se ela fosse um picolé.


PÁGINA 7

Toto je dievča. Neviem, ako sa volá.
Možno vy ju poznáte. Rada pláva v jazere.
Ked’ sa jej zachce, vo vode vidí morskú pannu. Vraj. Máme jej verit’?

Das hier ist ein Mädchen, keine Ahnung, wie es heißt.
Wisst ihr‘s? Es schwimmt so gern im See.
Je nach Stimmung sieht es dem Wasser eine Meerjungfrau entsteigen.
Sollen wir‘s glauben?

Eis uma pequena dama, que não sei como se chama.
Você manja a marmanjinha? Ela ama nadar no lago.
Se lhe der veneta, ela vê aflorar à flor d’água uma sereia.
Devemos lhe dar ouvidos?


PÁGINA 8

Dnes som stretla na brehu mušl’u.
Vyšla si na prechádzku z jazera.
Priložím ju k uchu a moje ústa z ničoho nič vyspevujú o mori a dial’ke.

Am Ufer begegnete mir morgens eine Muschel.
Zu einem Spaziergang war sie aufgebrochen.
Ans Ohr gelegt, beginnen meine Lippen, ganz von selbst, das Meer und weite Fernen zu besingen.

Hoje cedo, encontrei na orla uma concha   
que havia saído a passeio.
Pondo-a ao ouvido, meus lábios
puseram-se por si a cantar
o mar e as lonjuras.


PÁGINA 9

Dnes prišiel na jazero celý orchester: na jednej vlne hral bubeník, na druhej harfista, na tretej huslista, na štvrtej pianista, na piatej basista. Labute spievali a l’udia, ktorí nič nevideli, sa pýtali:
„Neviete, odkial’ sa berie tá hudba v povetrí?“

Heute erschien ein ganzes Orchester am See: auf einer Welle sitzend spielte der Trommler, auf der zweiten der Harfist, auf der dritten ein Geiger, auf der vierten der Pianist, auf der fünften der Bassist.
Die Schwäne sangen und die Menschen, ahnungslos, fragten sich:
„Woher nur tönt diese Musik herbei?”

Hoje, apareceu no lago uma orquestra completa: numa onda estava o baterista; na segunda, o harpista; na terceira, o violinista; na quarta, o pianista; na quinta, o baixista.
Os cisnes cantaram e as pessoas, desatentas, se indagaram:
“Donde vem essa música?”


PÁGINA 10

Celý deň hrmelo a pršalo. Z jazera sa vynorila sklená lod’.
Niesla náklad zlatých rýb, perál a diamantov. Straky chamtivo škriekali:
„Krrrrrrrrrrrááááááásny ligot!“
Ale potom prišla vel’ká a ponorila lod’ k rozprávkam. 

Den ganzen Tag donnerte es und Regen prasselte herab. Aus dem Schilf tauchte ein gläsernes Schiff empor. Es trug eine Ladung goldner Fische, Perlen und Diamanten. Die Elstern kreischten begierig:
„Welchchch schöööönerrrrrr Glanzzzz!”
Doch dann kam eine große Welle und versenkte das Boot zu den Märchen am Grund.

Trovejou e choveu hoje o dia inteiro. Um barco de vidro surgiu entre os juncos, com um frete de peixes de ouro, pérolas e diamantes.
As pegas guincharam ávidas:
“Queee briii-lho maaais liiinnn-dooo!”
Porém, veio um macaréu e afundou o barco mágico.


PÁGINA 11

Dnes večer lietajú mušky svetlušky.
Svietia na cestu jazerným vílam, ked’ pridŕžajú plášt’ pani noci.
Kto sa nebojí, môže tie víly chytit’ za vlasy a letiet’ hlboko i vysoko s nimi.

Heute abend erleuchten Glühwürmchen die Nacht.
Mit ihrem Licht weisen sie den Feen des Sees den Weg, wenn sie der Frau Nacht in ihren Mantel helfen.
Wer sich traut, packt die Feen an den Haaren und fliegt mit ihnen durch die Lüfte auf und ab.

Pirilampos lumiaram a escuridão noturna, hoje.
Suas luzes mostravam o caminho
às ninfas que ajudavam 
dona Noite a pôr seu manto.
Quem em fadas se fia, agarra-se aos cabelos delas
e com elas voeja nos ares, pra lá e pra cá.


PÁGINA 12

Akési diet’a spadlo na kamienky a rozbilo si kolená.
Revalo a ziapalo, až sa všetky kačky na jazere rozpŕchli.
Letel okolo anjel, položil svoje líce na líce uplakanca a slzy boli fuč.

Auf den Kies am Weg fiel ein Kind und schlug sich die Knie auf.
Es schrie und schluchzte, bis alle Enten des Sees auseinanderstoben.
Ein Engel flog vorüber, verharrte Wange an Wange mit der kindlichen Heulboje, und fort waren die Tränen.

Uma criança tropeçou numa pedra do caminho
e machucou o joelho.
Chorou e soluçou, até que a pataria pateou.
Veio um anjo, sobrevoou a área,
pôs-se cara a cara ante o chorão,
e as lágrimas se foram.


PÁGINA 13

Ráno pri jazere bežali maratón trpaslíci. Chrčali, sipeli, kopali sa, štuchali. Ryšavý chcel byt’ prvý. A potom kúzlo zmizlo. Tisíce jesenných listov hnal vietor po zemi.

Morgens joggte eine Gruppe Zwerge um den See. Sie schnauften, keuchten, schubsten sich und stolperten durcheinander. Der Rothaarige wollte der erste sein. Doch plötztlich war die Hexerei vorbei. Böen trieben tausende herbstlicher Blätter über den Boden.

Pela manhã um grupo de anões corria em torno ao lago. Eles bufavam, arquejavam, tropeçavam e se empurram em confusão. O sarará queria ser o primeirão. Súbito, o bruxedo acabou. Ventos lançaram milhares de folhas outonais ao chão.


PÁGINA 14

Na jazere sa hojdá čln.
Sedia v ňom čierni rybári.
Ale ved’ sú to kormorány!
  
Auf dem See schaukelt ein Kahn.
Tiefschwarze Fischer sitzen darin.
Aber halt, das sind ja Kormorane.

Sobre o lago flutua uma canoa. 
Pescadores nigérrimos estão nela. 
Ora essa, eles são os cormorões.


PÁGINA 15

Videli ste niekedy, ako letí prepelica?
Mávne krídlami a frkne do dial’ky
ako jazdec na koni s l’ahkými členkami.

Wisst ihr, wie eine Wachtel fliegt?
Sie flattert einmal mit den Flügeln und schon sprengt sie hinaus ins Weite wie der Reiter auf einem leichtfüßigen Pferd.

Você sabe como voa a codorniz?
Ela agita as asas uma vez
e já parte em disparada para longe
como faz o cavaleiro em cavalo bem veloz.
   

PÁGINA 16

Dnes večer letel za mnou černokňažník.
Pán, ktorý kráčal so mnou, nelenil. Prilepil ho lepidlom nad jazero.
Černokňažník tam kopal nohami až do svitania.

Heute abend flog ein schwarzer Zauberer
hinter mir her.
Der Herr, der mit mir schritt, war nicht faul. Mit Klebstoff befestigte er ihn über dem See.
Der Zauberer zappelte dann dort bis zum Morgengrauen.

Esta noite um mago negro voou atrás de mim.
O Senhor, que anda comigo, não sendo molenga,
colou com cola ao lago o mago,
que ali estrebuchou até alta madrugada.


PÁGINA 17

„Chod’ si svojou cestou, ja si idem svojou,“ povedala mi dnes z ničoho nič cesta pri jazere.
A potom sa ponáhl’ala tam, kam utekajú všetky rieky. Viete hádam kam?

„Geh du nur deinen Weg, ich gehe den meinen“,
sagte mir nichts dir nichts heute der Weg am See.
Und dann eilte er dorthin, wohin alle Flüsse eilen. Wißt ihr‘s denn?

“Siga apenas teu caminho, que eu seguirei o meu”,
disse-me, sem mais nem menos, o caminho do lago.
E se apressou ali onde se apressam as correntes.
Sabia disso?


PÁGINA 18

Práve sa stala čudná vec:
Zelená žaba drži v rukách trúbu. Zatrúbi.
Nad vodu v tú chvíl’ú padne hmla.

Gerade geschah etwas Seltsames.
Ein grasgrüner Frosch grift sich eine Trompete.
Und trompetete.
Und aus heiterem Himmel fiel jäh Nebel nieder
auf den See.

Foi então que algo estranho sucedeu:
Uma verdegaia rã agarrou uma trombeta.
E trombeteou.
Súbito, do calmo céu caiu névoa no lago.


PÁGINA 19

Sťažuje sa jedna pani druhej, že chce bývat’
vo vel’kom meste. Lebo tu je jazerné ticho. Vtedy labut’ začne hrat’ na saxofóne a tá smutná pani sa roztancuje.

Eine Frau klagte der andern, sie würde doch so gern in einer großen Stadt leben. Denn hier am See sei allzuviel Stille.
Da begann der Schwan das Saxophon zu spielen und die Wehmütige wiegte sich im Tanz.

Uma dama reclamou à outra que ela adoraria viver numa cidade grande. Pois aqui no lago é excessivamente calmo.
Então, um cisne passou a tocar saxofone e a tristeza caiu na dança.


PÁGINA 20

Jedna pani dnes naháňala pri jazere hluchého psa.
Hluchý pes naháňal zajaca. Zajac naháňal vranu. Vrana naháňala mušku.
A tej pani sa zatial’ doma rozvarili rezance.

Einem tauben Hund hetzte heute am See eine Frau hinterdreien.
Der taube Hund jagte einen Hasen. Der Hase war hinter der Krähe her.
Die Krähe verfolgte eine Fliege.
Und zu Hause zerkochten inzwischen der Frau die Nudeln.

Uma mulher enxotou um cão surdo hoje no lago.
Ele acossava uma lebre, que seguia um corvo,
que perseguia uma mosca.
Enquanto em casa, a senhora empapava o macarrão.


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Nepýtajte sa ma, kto je Berta. Je to jednoducho d’alšia pani, ktorá  žije pri jazere. Má veselé oči, spieva si po nemecky a z tej jej pesničky vyletujú včely – medové spomienky.

Fragt mich nicht, wer Berta ist. Sie ist einfach noch eine Frau, die am See lebt. Fröhliche Augen hat sie, trällert auf deutsch vor sich hin und ihren Liedchen entströmen zarte Bienchen – honigsüße Erinnerungen.

Não me pergunte quem é Berta. Ela é apenas mais uma senhora que vive no lago. Ela tem olhos alegres, e canta aos borbotões para si, em alemão, singelas cançõezinhas – melífluas lembranças.


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„Bundo, lundo,“ povedal mi chlapec. L’ahký ako svetlo, čierny ako káva, lebo je z Brazílie. Volá sa Valdo, píše básne, klania sa jazeru a lieta nad ním v hmle.

„Bundo, lundo,“  sagte der Junge zu mir. Leicht wie Licht, schwarz wie Kaffee, denn er kommt aus Brasilien. Er heißt Valdo, schreibt Gedichte, macht eine Verbeugung vor dem See und steigt im Nebel in die Lüfte.

 “Bundo, lundo”, disse-me o jovem. Leve como a luz, negro que nem café, pois ele veio do Brasil. Chama-se Valdo, escreve poesias; reverencia o lago, vira névoa e sobe aos ares.


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Popri jazere kráča panáčik. Píska na píšt’alke.
Za ním ostošest’ cupitajú zajace. Ale ved’ je to Franky!
Býva nad jazerom spolu so stromami medzi zajacami.

Am See schreitet ein Hampelmännchen. Pfeift auf einer Pfeife.
Hinter ihm versuchen trippelnde Häschen Schritt zu halten.
Aber das ist doch Franky!
Er wohnt am Hang über dem See, inmitten von Bäumen und Hasen.

Um bonequinho bradava no lago,
apitando um apito. Atrás dele, lebrotos tropegantes, tentam lhe seguir os passos. 
Ora essa, é o Franky!
Ele mora no barranco do lago entre árvores e lebres.


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Stromom sa dnes ligotali koruny,
ako ked’ si Renáta umyje krásne vlasy
a potom si ich rozhodí iba tak, po pleciach.

Das Geäst der winterkahlen Bäume erstrahlt heute in sanftem Schimmer, als hätte
Renata ihre krausen Haare gewaschen –
über die Schulter geworfen, lässt sie sie trocknen.

A ramagem hibernal das árvores hoje brilha
com suave fulgor,
como se Renata tivesse lavado seus cabelos crespos,
deixando-os caídos nos ombros a secar.


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Toto je strom, ktorý chodí tak, že sas kolíše.
Kto má zlú náladu, môže naň vyliezt’.
Uvidí takú veselú oblohu,
až sa rozosmeje: hahaha, hohoho, hihihi, huhuhu.

Das ist ein Baum, beim Gehen wiegt er sich im Schritt.
Wer schlechter Stimmung ist, kann ihn besteigen. Dort oben wird ihn der fröhliche Himmel zum Lachen bringen: hahaha, hohoho, hihihi, huhuhu.

Esta é uma árvore que dança,
no compasso dos passos de quem passa.
Se estiver amuado, trepe nela,
que lá em cima há de levá-lo
o céu feliz às gargalhadas:
hahaha, hohoho, hihihi, huhuhu.


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Zoznámila som sa s čudným poloplavcom.
Je to strom s kmeňom nad vodou a konármi v jazere.
Dá sa naň sadnút’, zavriet’ oči, byt’ v jazernom kine.

Ich machte Bekanntschaft mit einem wunderlichen Wesen – wahrlich ein halber Schwimmer.
Es ist ein Baum mit Wurzeln über dem Wasser und Zweigen im See.
Setzt man sich drauf und schließt die Augen, wird man in ein See-Kino versetzt.

Conheci um ser esquisitaço
– na verdade, meio anfíbio:
uma árvore com raízes sobre a água
e a copa inclinada para o lago.
Quem nela senta e fecha os olhos,
há de ver um filme aquático.



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