domingo, 21 de fevereiro de 2010

DO BURACO NEGRO

No jargão da medicina, a palavra lume ou luz significa qualquer cavidade ou espaço vazio do corpo. A caverna primordial no corpo humano é o tubo neural, o canal da espinha.
Como ensinam os livros de embriologia, no princípio da formação do corpo, este canal é aberto nas extremidades, e tais aberturas correspondem ao ânus e à boca. Isso significa que no buraco negro, sujo e fedorento do corpo, está a luz primordial, que explica todos os mistérios.
Aqui é a casa da felicidade. Aliás, na medicina e no esoterismo chineses, considera-se que está em nosso dorso o Céu primordial, e que o seu lugar exato é a vesícula germinal, conforme dizem o I Ching e O segredo da flor de ouro, dois livros fundamentais.
Na ponta da espinha está o osso da alegria, o cóccix, pirâmide da vida. Entre os maias, K'ul era o nome do cóccix, e K'u designa o sagrado, e o Deus vivo, que habita em nosso rabo. Em inglês, jew bone, isto é, osso judeu, é um dos nomes do sacro, que está ligado ao cóccix. Sacro ou sagrado quer dizer intocável, separado...
Ao sacro e ao cóccix está ligado o maior nervo do corpo, o nervo ciático, que são dois, nascem em cada lado da porção sacrococcígea e se dirigem para os pés, em numerosas ramificações nervosas. São raízes, canais energéticos com a terra.
Na famosa luta entre Jacó e o anjo de Deus, este queria tocar-lhe o lugar sagrado, mas Jacó não permitiu; no embate, o anjo conseguiu tocar-lhe a cavidade lateral da coxa, onde passa o nervo que chamo iniciático.
Em hebraico, a palavra LUZ designa o cóccix e o centro da imortalidade, e LOZ significa posto à parte, separado, reservado, isolado, referindo-se ao sagrado ou à santidade.
Já disse e repito que o nefando é a tradução mais perfeita do inefável. Mais recentemente, confirmei esta assertiva ao verificar que o inominável, no dicionário, designa aquilo que não se diz, que não se pode ou não se deve dizer, e também algo vil, intolerável, repulsivo.
Isso fortalece a minha convicção de que somente por conveniências e interesses mesquinhos, escusos, é que o sagrado, definido como algo separado, isolado, tornou-se intocável, maldito, infame, vil, como diz um dicionário de latim.
Paradoxalmente, o sublime é algo magnífico, grandioso, nobre, elevado, que transcende o normal, o corriqueiro, mas também pode ser desprezível, vergonhoso, sórdido.

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