sexta-feira, 19 de abril de 2013


POÉTICA


(Texto extraído de "Arte Culinária: do Abaporu à Bicha Papona", que sairá em breve)

Poetas não são apenas fazedores de versos, mas sobretudo criadores de novas realidades abstratas e concretas, pessoais e sociais. A poesia é a mãe de todas as artes, ciências e religiões, filhas ingratas. Pode ajudar a resolver os enguiços, impasses, aporias, quiprocós criados pelas filhotas irresponsáveis.

Logopeia: renovação, inovação de ideias, temas, abordagens, perspectivas; reflexão contra a esclerose, a poesia oca e boboca, o torpor, a modorra; a anorexia temática, a anemia espiritual, a mornidão apocalíptica. Leitores não se interessam por ideias e obras que pouco ou nada oferecem (Pound).

Destoar do panorama melancólico: gorjeios maçantes, subjetividade rasa; bebuns de estesias nos botecos e igrejinhas; noviços do sublime, devotos da musa automática & psicodélica, sereias desafinadas, parcas porcas, aporia, entropia.

Diálogo intertextual, intercultural. A poesia é um diálogo entre autores, e destes com os leitores. Paródia: debochar, avacalhar. Palinódia: desdizer, redizer; crítica e reformulação de ideias.

Poeta: vate, profeta, mago. Poesia: magia, vaticínio, profecia. Poesia: arte, ciência, religião. Poesia: revelação, criação.

Boi na frente, carro atrás: verdade e beleza; ética e estética; conteúdo e forma.

Poiesis: autopoiesis, metapoiesis, mitopoiesis.

Valorizar as formas simples, tradições populares, lendas, mitos.

Reabertura da agenda modernista (expressão de Raul Antelo): antropofagia, linguagem coloquial, temas nacionais, humor. A prova dos nove é a alegria, como Oswald dizia e repetem os Waldos. Já disse por aí, quando era Valdo: espero que o mundo acabe em gargalhadas – dos que restarem.

A crítica é mais eficaz com humor, ironia. Ridendo castigat mores.

Malandragem waldivina, utilizo várias máscaras e o burlesco em minha catequese, para seduzir e converter racionalistas selvagens. Iumna Maria Simon, no ensaio Revelação e Desencanto, já havia notado em minha poesia, particularmente no livro Bundo e outros poemas, essa relação entre sagrado e comédia, a ambivalência do profeta que se faz arlequim.

Waldo Motta

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